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Ranganathan ontem, hoje e sempre presente na Biblioteconomia

  • Foto do escritor: Alex Azevedo
    Alex Azevedo
  • 12 de abr. de 2018
  • 7 min de leitura

Atualizado: 14 de abr. de 2018

Os holofotes sempre estarão ligados quando Shiyali Ramamrita Ranganathan estiver em cena na biblioteconomia.

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Todos os bibliotecários em seu processo de formação acadêmica e profissional já estudaram as famosas leis de Ranganathan, alias quem é este personagem responsável pela escola indiana de biblioteconomia?


Shiyali Ramamrita Ranganathan, este é seu nome completo, foi um matemático e bibliotecário indiano, nascido no dia 9 de agosto 1892, na vila rural de Shiyali, cidade de Madras. Sua principal contribuição na área da biblioteconomia foi o desenvolvimento do primeiro sistema de classificação analítico-sintético, a conhecida classificação dos dois pontos.

Ranganathan é considerado o pai da biblioteconomia (Library Science) na Índia.

Ranganathan obteve como primeira formação o título de matemático, passando a lecionar em várias das universidades locais. Sua relação com a forma de organização dos livros adveio das dificuldades que encontrava ao selecionar as publicações que lhe interessavam nas áreas de Matemática e Física, isso entre os anos de 1917 e 1924, período em que lecionava nas universidades.

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Selo alucivo a Shiyali Ramamrita Ranganathan

Contudo, no dia 9 de janeiro de 1924, ocupou a vaga remanescente de bibliotecário na Universidade de Madras e, devido a isso, teve que se adaptar à rotina da biblioteca, mais especificamente ao sistema de busca por catálogo, que trazia nas fichas apenas os nomes dos autores em ordem alfabética.

Nesse período, Ranganathan constatou a real dificuldade de acesso aos livros por parte dos usuários, bem como presenciou o despreparo do pessoal envolvido nos trabalhos da biblioteca, até mesmo dele, pois, até então, nunca ouvira sequer falar em classificação bibliográfica.


Pediu, então, para ser substituído, partindo rumo à Londres decidido a estudar Biblioteconomia no British Museum Library. Porém, foi alertado pelo bibliotecário do local, Sr. Frederick Kenyon, de que o curso na instituição não dispunha de métodos modernos de ensino, sendo aconselhado a ingressar na School of Librarianship in the University College. Bastou apenas um telefonema para o Sr. Ernest Baker, professor de inglês e diretor da School of Librarianship, para que Ranganathan pudesse ingressar de vez no curso de Biblioteconomia.

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A partir de então, passou a maior parte de seu tempo contemplando a biblioteca, já que sua residência ficava próxima à universidade, e conhecendo todas as atividades com mais afinco. Em Londres um de seus professores, W. C. Berwick Sayers, dizia que a Biblioteconomia é uma área que possui uma peculiaridade, a da criação; o que aprendemos na universidade e nos livros são somente os princípios.


Ele viu em Ranganathan uma forte personalidade e passou a orientar seus estudos. Sendo assim, o aconselha a entrar em contato com o maior número de profissionais possíveis e a visitar o máximo de bibliotecas que ele conseguisse. E assim fez Ranganathan, visitou mais de cem tipos de bibliotecas, cada uma diferente da outra.

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Na universidade, ele ficou fascinado pelo ensino das disciplinas de classificação; no entanto, apenas uma o deixou insatisfeito: a Decimal Classification, traduzida para o nosso idioma como Classificação Decimal de Dewey (CDD).


Ranganathan expõe, de forma bem sutil e em muitas de suas publicações, a sua insatisfação para com esse sistema. Ele afirma que todas as suas classes numéricas eram “congeladas” e não possibilitavam que um novo assunto composto fosse incorporado próximo à classe do assunto principal, ou seja, a CDD, por ser enumerativa e já possuir uma notação previamente estabelecida, criava uma barreira para incorporar assuntos ainda “desconhecidos”, em fase de desenvolvimento e/ou de pesquisa.


Sua crítica à teoria de Dewey o fez buscar novos horizontes para a classificação, enxergando a multidisciplinaridade dos assuntos que compõem um sistema notacional. Segundo Ranganathan

[…] a CDD enumerava mais os assuntos compostos conhecidos e os representava por uma fração de números decimais. No entanto, ela não poderia prover uma coextensão das classes numéricas para todos os novos assuntos que iam surgindo no século XX. Aos livros incorporados nesses novos assuntos, tinha que ser forçadamente atribuída uma numeração muito distante, e isso era constantemente difícil de ser decidido […].

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Foi neste momento que Ranganathan começou a refletir sobre qual seria a melhor maneira de ampliar o universo da classificação do conhecimento, afirmando, porém, que a CDD poderia ter suprido às necessidades da época em que fora desenvolvida, apenas para que bibliotecários e leitores aceitassem a classificação como um auxílio em suas buscas nas bibliotecas.


Sua formulação teórica parte, então, da análise de que havia uma valorização exacerbada da teoria no método de classificação, esquecendo-se um pouco do lado prático dessa atividade. Numa conversa informal na cantina da universidade com um de seus professores de classificação, o Sr. W.C. Berwick Sayers, Ranganathan desenhou um esboço do que viria a ser o seu sistema de classificação. Juntamente com o sr. Sayers, pensou em componentes que poderiam ser seu ponto de partida, foi quando determinou as facetas “tempo” e “espaço” como suas primeiras categorias fundamentais.


Ambos os estudiosos se depararam com o problema de como seria determinado o termo mais geral dos assuntos, foi então que decidiram chamar essa faceta de “personalidade”. Ranganathan formulara a sua teoria a partir da convivência com seu professor de classificação, mas a sua primeira prática só viera mesmo a bordo de um navio, quando ele retorna a Madras em junho de 1925.

Ranganathan era um homem extremamente politizado como profissional, lutava pela melhoria de condições de trabalho, e como professor preocupava-se com o ensino e a pesquisa em seu país.

Durante a viagem, Ranganathan coloca em prática o seu projeto piloto. O capitão do navio lhe concede autorização para que ele pudesse organizar e reorganizar os livros da forma que bem lhe aprouvesse, o que, segundo ele, mobilizou muitos passageiros a apreciá-lo e a ajudá-lo.


Em seu relato, Ranganathan considera uma aventura ter reorganizado um acervo de quase 20.000 exemplares seguindo o esboço de seu sistema de classificação, concluindo o trabalho antes de chegar a Madras. Contudo, ao regressar, Ranganathan se deparou com um grande desafio: colocar em ordem a biblioteca da universidade onde começara a sua carreira.

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Voltando para a Índia foi professor de Biblioteconomia por aproximadamente 40 anos. No ano de 1928, idealizou as cinco leis da Biblioteconomia, e em novembro deste mesmo ano, casou-se com Sarana com quem teve apenas um único filho, em uma cerimônia simples.

As cincos leis foram publicadas, posteriormente, em seu livro "The Five Laws of Library Science" (1931), que aborda pontos importantíssimos da Biblioteconomia moderna. Estas leis podem ser resumidas da seguinte forma:


1. Os livros são escritos para serem lidos: o livro é um meio que impulsiona o conhecimento. E podemos observar a importância de uma biblioteca na seguinte frase: "quem tem informação, tem poder". Aponta para o livro como um meio e não como tendo um fim em si mesmo. Em relação as bibliotecas de nada adianta tê-las cheias de livros senão se dá o acesso a informação. Por isso, esta afirmativa de Ranganathan se perpetua até os dias de hoje.

2. Todo leitor tem seu livro: o bibliotecário deve fazer o estudo dos usuários, observando a clientela para preparar o acervo. Aponta para a seleção de acordo com o perfil do usuário.

3. Todo livro tem seu leitor: refere-se a disseminação da informação, em que se deve divulgar os livros existentes em cada biblioteca. Aponta para a importância da divulgação do livro, sua disseminação, antecipando a estética da recepção.

4. Poupe o tempo do leitor: a arrumação e catalogação dos documentos diminui o tempo necessário para encontrar a informação desejada. Aponta para o livre acesso às estantes, o serviço de referência e a simplificação dos processos técnicos.

5. Uma biblioteca é um organismo em crescimento: o bibliotecário deve controlar esse crescimento, verificando qual a informação que está sendo usada, através de estatísticas da consulta e empréstimo. Decorre da explosão bibliográfica que exige atualização das coleções e previsão do crescimento da área ocupada pela biblioteca.


As leis oferecem recomendações especiais para os bibliotecários com potencial de planejamento e oferta de serviços aos usuários em todos os tipos de bibliotecas.

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Ranganathan também deu três importantes contribuições para a Biblioteconomia:


1. A primeira consistiu em introduzir três níveis distintos em que trabalham os classificacionistas (que elaboram sistemas de classificação) e os classificadores, o plano da ideia (nível das ideias, conceitos), o plano verbal (nível do léxico, da expressão verbal dos conceitos) e o plano notacional ou formal (nível de fixação dos conceitos em formas abstratas).

2. A segunda contribuição refere-se à sua abordagem analítico-sintética para a identificação dos assuntos (que antes dele era essencialmente dedutiva, mas não indutiva).

3. A terceira contribuição foi o estabelecimento de dezoito princípios que podem ser considerados como um instrumento para avaliação de sistemas de classificação.


Os anos de trabalho em Madras foram dedicados à administração e classificação de bibliotecas. Durante este período que produziu suas cinco leis da biblioteconomia(1931) e do sistema de classificação dos dois pontos (1933).

Ranganathan publicou muitos artigos (a maioria sobre a história da Matemática) e mais de 50 livros, dentre eles 9 obras se destacam:


1. Five Laws of Library Science (1931);

2. Colon Classification (1933);

3. Classified Catalogue Code (1934);

4. Prolegomena to Library Classification (1937);

5. Theory of the Library Catalogue (1938);

6. Elements of Library Classification (1945);

7. Classification and International Documentation (1948);

8. Classification and Communication (1951);

9. Headings and Canons (1955).


No dia 27 de setembro de 1972, após uma breve enfermidade, morre Ranganathan na sua residência em Bangalire. Para quem quiser aprofundar na literatura sobre o Ranganathan, recomendo a leitura dos livros mencionados abaixo (só clicar neles para ter acesso)

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Inspire-se

É indiscutível que Ranganathan deixou um legado para história da biblioteconomia, e fazendo uma breve pesquisa de sua memória, consegui resgatei algumas fotos que retrata sua vida como bibliotecário atuante, confira:

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Na Universidade de Pittsburgh, Ranganathan recebeu título honorífico de doutor Honoris Causa, 01 de junho de 1964.

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Recebendo o reconhecimento do presidente da Índia, Dr. Ragendra Prasad, como autoridade em biblioteconomia e membro do comitê internacional de bibliotecas das Nações Unidas, em 29 outubro de 1957.






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London School of Librarianship, epicentro da Biblioteconomia britânica. Local que SRR Shiyali Ramamrita Ranganathan estudou sob orientação de W.C. Berwick Sayers no período de 1924-1925.



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W C Berwick Sayers, introduziu Ranganathan na profissão de bibliotecário, tanto como professor na London School of Librarianship, quanto nas Bibliotecas de Croydon, da qual Sayers era o bibliotecário-chefe.






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Universidade de Delhi. Departamento de Biblioteconomia, 1949-50.




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Os amigos Ranganathan e Palmer se conheceram em Madras durante a Segunda Guerra Mundial. Palmer tornou-se o missionário para propagar as ideias da Ranganathan no Reino Unido. Desde 1948, ele coordenou a exposição pessoal de Ranganathan aos círculos da biblioteconomia (Library Science) britânica.




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Discursando em uma aula sobre classificação na Rutgers State University, New Jersey, 1964.





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Representando a Índia em um evento na Biblioteca Nacional da Alemanha, em Berlim, 1961, com o Prof. Basheer-Uddin.









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Na Conferência da International Federation of Library Association (IFLA), em Zagreb, na Yugoslavia, 1959.



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No Congresso da International Federation for Documentation (FID), em Stuttgart, na Alemanha,1958.




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No Parlamento Japonês, em Tóquio, no Japão; 1958.







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Conferência da International Federation for Documentation (FID), Bruxelas, Bélgica, 1955.



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Ranganathan presidindo um subcomitê da ONU, Nova York, 1948.







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S.R. Ranganathan e membros do corpo docente da Biblioteca John Murray, Asbbourne Hall, Manchester, Reino Unido, na Unesco-IFLA em setembro de 1948



 
 
 

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